quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Oralidade nas Campanhas Político-Publicitárias

A oralidade, além de característica inerente ao homem, é também a materialização mais instintiva da essência comunicativa. Mas a linguagem em si, base da comunicação, vai muito além da oralidade: ela abrange todas as capacidades e meios de comunicação, utilizando-os e mesclando-os, tais como: expressões faciais e corporais, expressões artísticas, atitudes, comportamentos, escrita, e entre outros, a própria fala. Esses exemplos são facilmente encontrados nas situações cotidianas, despercebidamente.

Entre casos interessantes a serem abordados, destaco aqui, a oralidade presente nas campanhas publicitárias e o modo com que as diferentes linguagens se entrelaçam, formando um gênero misto, tanto em concepção discursiva, como em meios de produção. Aproveitando o momento eleitoral, analisemos as propagandas políticas atuais e observemos as características de persuasão nas linguagens, comuns a publicidade, porém bem incisivos nas campanhas eleitorais, pois não se trata de apenas vender um produto, mas de se fazer adotar uma idéia.

Produção prévia. Não há dúvidas de que o discurso direto proclamado nas campanhas é previamente preparado. Partindo desse pressuposto, encontramos cruzamento entre a oralidade e a concepção escrita. Desde propostas anunciadas pelos candidatos, aos links humanos ou âncoras que servem também de narradores (possuem uma função coesiva de estabelecer ligações entre imagens, propostas e etc.), até os jingles, que possuem mais características orais: todos os exemplos citados são gêneros mistos. Dentro dos jingles, a linguagem deixa de ser um tanto elaborada, visto que eles servem de ícones sonoros, indicando a mensagem principal, elaborados para fazer o marketing do candidato - É Eduardo, É Esperança, É Eduardo, É o Futuro, É Eduardo, Governador, É Eduardo, É Pernambuco. Presente neste jingle, está um dos recursos lingüísticos, a repetição proposital de um termo, uma redundância intencional, comum em jingles ou qualquer que seja a produção de caráter influenciador.

Linguagem ou construções mais simples também são encontradas em depoimentos e testemunhos colhidos do povo, geralmente pertencente à classe baixa e escolhido a dedo pelos interesses marketeiros de atingir tal público. São explorados nesse campo, todos os sotaques ou imagens que representem de modo geral a diversidade existente (estereótipos culturais brasileiros), situação vista na apresentação das propostas feitas por âncoras na campanha de Lula: negros, brancos, indígenas e orientais. Essa já seria uma persuasão ideológica.

Já no campo de lugar-comum Lula também possui chavões... Que sempre são remetidos a ele e são usados de modo a mitificá-lo: “Minhas amigas e meus amigos”. As ênfases em determinada palavra também fazem parte desses lugares-comuns, e não fogem da boca de nenhum candidato. Existem paralelamente aos discursos, as tentativas de diálogo, indagações que candidatos fazem para provocar o adversário e seus eleitores, presente em todas as campanhas: Lula, Alckmin, Eduardo e Mendonça.

A estimulação visual também é muito utilizada. Tanto nas referências a lugares, pessoas e projetos, como também na apresentação de documentos, slides, gráficos e slogans, o apelo visual comunica tanto quanto as palavras proferidas. Um outro meio interessante é o gestual, seria essa uma concepção visual? Bom, pode haver preparos escritos ou orais, mas a expressão também comunica por si só. A linguagem de sinais, as libras, destinada aos surdos-mudos, não possui nenhuma oralidade ou escrita, apesar de ser referida a fala do momento. E quando substituem a “tradutora especial”, surgem as legendas, re-textualizadas, que por vezes, também podem excluir os analfabetos, principalmente por possuírem letras pequenas e muitas vezes, quase invisíveis. A intenção, a principio, é incluir todos no processo de propaganda eleitoral. Os gestos dos candidatos também entram na linguagem corporal, que podem ser previamente pensados para produzir algum efeito no telespectador.

Depois de uma carga de informações dessa estirpe, o eleitor precisa decidir. Tudo é voltado para ele, inclusive, o meio e o conteúdo produzido na campanha varia de acordo com os interesses momentâneos do candidato em cima do eleitorado. A oralidade é fundamental e deve respeitar sua concepção. Embora mista, nesse caso, ela precisa conservar a emoção e a espontaneidade para causar um efeito real, indo além de uma campanha seca e cansativa.

domingo, 10 de dezembro de 2006

A Revolução Doce


Problema secular brasileiro, problema milenar mundial. O parâmetro que aproxima todas as variações temporais e espaciais é o mesmo: importância universal. Sua temática é causa de maioria das discussões inspiradas em pareceres sociológicos que abrangem pequenas ou amplas localidades. Mais especificamente, a educação é um anseio geral, é problema e salvação de qualquer nação.

Internamente, por sua grande extensão territorial e pelo seu passado histórico, o Brasil possui inúmeras divergências, sejam climáticas, políticas ou econômicas. Mas de fato, é na educação que o país possui características comuns em todas as regiões. Totalmente elitista, sua atuação popular é precária e má distribuída. As escolas e universidades são restritas aos melhores (através de processos seletivos) e aos maiores (com posses ou melhores condições financeiras), fazendo com que não haja circulação do poder político, econômico e social.
De acordo com Gramsci, a educação, sob responsabilidade dos intelectuais orgânicos, é a grande geradora na formação de ativistas, ou seja, de atores nas possíveis revoluções sociais. Pois, como visto, grandes guerras não se atém somente a força física, mas a ela agregada de estratégia e capacidade de produção intelectual. Um exemplo histórico, não tão distante, está no iluminismo. Elucidação de idéias, legitimação de novos ideais e uma melhor geometria da pirâmide social, eram seus principais objetivos. Eis um fruto da educação.
Na maioria dos países ocidentais, atualmente, a sociedade é estratificada em classes sociais e permite mobilidade tanto vertical, como horizontal, teoricamente. Para o indivíduo alcançar uma “liberdade” na escolha de um status social é preciso estar sob um governo democrático, porém, na prática, a educação como base de qualquer mudança social está longe do alcance de todos.
A esperança é que o futuro não seja escrito (pelos historiadores) com um triste apelo emotivo herdado de uma história mundial estagnada. Mas que essa mesma história seja marcada pela conquista de uma despolarização social dado o fim das crises, sejam étnicas, econômicas ou religiosas. Utopia? A globalização já começou a agir na aproximação de países. A partir de então é necessário que seja unificada a educação dentro das próprias nações com a democratização da informação. Afinal, o momento tecnológico é facilitador, as forças políticas se dizem favoráveis. Que se faça, então, a revolução doce (conceito de Cristóvam Buarque).